Sinto que em breve conseguirei voltar a escrever, após meses e mais meses completamente em silêncio. Silêncio interior e silêncio exterior, com um certo quê de retiro, abstinência e às vezes até privação. Sempre fui contra privações, castrações, contenções, até o dia em que o excesso ultrapassou qualquer esfera compreensível e admissível.
Fugiu ao corpo, foi parar na casa do vizinho, tirou o sono de toda vizinhança e tornou-se meu pesadelo. E a ele seguiram-se as dores todas dos excessos cometidos. Dos excessos assumidamente extrapolados e repetidos.
Excessos seguidos, excessos esquecidos, excessos excessivos.
Há que saber também sentir prazer em comedimentos, em cantinhos solitários, em sentimentos sutis, em músicas instrumentais, orientais, do próprio corpo. Há imenso prazer às vezes em tomar um copo cheio d´água até ficar saciado e continuar sóbrio.
Há também muita beleza e muita ternura em dias de chuva. Há qualquer coisa de instigante na solidão, na não ligação, na não plenitude.
Às vezes é preciso menos vozes, menos sons, menos pensamentos, menos visões. A razão nem sempre conforta e tampouco soluciona problemas. Já não sei para onde ir, já não sei o que seguir. Talvez um término abrupto para que eu não peque ainda mais por tanto me repetir.
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