1/2 sonho, 1/2 realidade: Na medida certa.
Meu pai me guiava entre aquelas árvores imensas e aquele pequeno trajeto de lama, cercado por dois rios que corriam em direções contrárias. De um lado as águas eram turvas e corriam furiosas, do outro plácidas e transparentes. Ele de um lado, sentado em um toco de madeira, observava uma piscina ali no meio do trajeto, oval de resina branca- a mesma da casa do meu avô, que eu morria de medo de tubarões. Do outro lado eu observava ele observando ora a piscina, ora o rio, ora o reflexo dele na água, ora os pés sujos de lama.
Enquanto ele estava sentado em uma posição aparentemente confortabilíssima, eu estava em pé, com o peso do corpo jogado na perna esquerda, a observar a água do rio turvo. A margem estava muito próxima, um passo e eu estava dentro do rio. Olhei para o lado e vi que meu pai me olhava de esguelha.
Olhei à minha frente e dei dois pulos pra trás. Um jacaré enorme emergia daquele rio,só que agora calmo. Seu corpo se camuflava na água verde exército, coberto de musgo, dando uma falsa impressão de seu tamanho. Sua mandíbula era enorme, meu corpo inteiro cabia entre seus dentes e se lhe viesse a vontade ou a fome, numa fração de segundos eu estaria em seu estômago, como Pinóquio na barriga da baleia.
Entrei na boca e saí em um quarto. Uma menina de camisola branca vomitava um líquido amarelo que me causava náusea. Ela tinha a pele branca como a de um cadáver e sem dúvida era anêmica. Pobrezinha, tão magra ela. Quando o tecido da camisola encostava em seu corpo era possível ver todos os seus ossos, dos ombros ao quadril. Os tornozelos finos e frágeis sustentavam um corpo que dividia a vida e a morte. E eu paralisada, tomada por uma série de sensações horrendas que me davam vontade de vomitar, de gritar, de fugir daquele lugar.
Abri a porta ao meu lado e um corpo caiu no chão. Não fiquei ali pra ver. Saí.
Na calçada um pé verde parado me impedia a passagem. Verde, roxo, vermelho. Prefiro roxo. É mais doce. O pedágio era arrancar o roxo mais alto e comer. Mãos e pés roxos, cara roxa, boca roxa, camiseta branca-roxa.
Mais à frente outro pé me impedia a passagem. Pé verde e laranja. Pouco laranja e o pedágio agora era outro. Tinha que pegar um laranja que não me causasse arrelias. Primeiro. Segundo. Terceiro. Sorriso no rosto e azedinho na boca.
Boca roxa, mão roxa, cor na língua confundindo o paladar.
Amora é mais doce que pitanga.
Passei o segundo pedágio e voltei pra casa, levando na boca um azedinho gostoso.
Enquanto ele estava sentado em uma posição aparentemente confortabilíssima, eu estava em pé, com o peso do corpo jogado na perna esquerda, a observar a água do rio turvo. A margem estava muito próxima, um passo e eu estava dentro do rio. Olhei para o lado e vi que meu pai me olhava de esguelha.
Olhei à minha frente e dei dois pulos pra trás. Um jacaré enorme emergia daquele rio,só que agora calmo. Seu corpo se camuflava na água verde exército, coberto de musgo, dando uma falsa impressão de seu tamanho. Sua mandíbula era enorme, meu corpo inteiro cabia entre seus dentes e se lhe viesse a vontade ou a fome, numa fração de segundos eu estaria em seu estômago, como Pinóquio na barriga da baleia.
Entrei na boca e saí em um quarto. Uma menina de camisola branca vomitava um líquido amarelo que me causava náusea. Ela tinha a pele branca como a de um cadáver e sem dúvida era anêmica. Pobrezinha, tão magra ela. Quando o tecido da camisola encostava em seu corpo era possível ver todos os seus ossos, dos ombros ao quadril. Os tornozelos finos e frágeis sustentavam um corpo que dividia a vida e a morte. E eu paralisada, tomada por uma série de sensações horrendas que me davam vontade de vomitar, de gritar, de fugir daquele lugar.
Abri a porta ao meu lado e um corpo caiu no chão. Não fiquei ali pra ver. Saí.
Na calçada um pé verde parado me impedia a passagem. Verde, roxo, vermelho. Prefiro roxo. É mais doce. O pedágio era arrancar o roxo mais alto e comer. Mãos e pés roxos, cara roxa, boca roxa, camiseta branca-roxa.
Mais à frente outro pé me impedia a passagem. Pé verde e laranja. Pouco laranja e o pedágio agora era outro. Tinha que pegar um laranja que não me causasse arrelias. Primeiro. Segundo. Terceiro. Sorriso no rosto e azedinho na boca.
Boca roxa, mão roxa, cor na língua confundindo o paladar.
Amora é mais doce que pitanga.
Passei o segundo pedágio e voltei pra casa, levando na boca um azedinho gostoso.
Comentários
se isso não foi uma viagem lisérgica, eu juro que não sei da onde você tirou tantas sensações/cores/formas. hahaha
e quanto ao gosto amargo, ele sim. o gosto amargo me soa como uma coisa descontente mas boa, preparada pra mudar. eu gosto muito dessa palavra 'amargo'. até porque de doce, eu não tenho nada.
e o doce é muito bonito, o que já é chato por si só.
beijo