Do dia em que me traí.
Fazia tempo que eu não me sentia tão à vontade, tão feliz comigo mesma. Era uma tarde de domingo como outra qualquer, dessas que a gente passa o dia à toa, lendo qualquer coisa boba ou simplesmente pensando na terrível e inevitável segunda-feira. Naquela tarde eu me sentia bem. Estranhamente bem. Mesmo não tendo feito ao longo da semana tudo o que havia planejado. Mesmo não tendo recebido a ligação que eu tanto esperava. Mesmo não tendo feito absolutamente nada de diferente de todas as outras semanas.
Deitada na cama, os lençóis jogados, os travesseiros no chão e repleta de coisas ao redor, rolei de um lado pro outro, dentro do limite que a cama me dava. Fiquei olhando para o teto e depois para tudo o que me cercava, na tentativa de encontrar ali algo especial. Eram muitos papéis, contas à pagar, projetos inacabados, uma xícara de café, um papel de adoçante rasgado, umas tantas roupas que não foram usadas e uma série de outras coisas que agora já não me lembro.
Havia passado a manhã inteira ao som de Billie Holiday, tomando capuccino e comendo bolachas, buscando à minha volta aquilo que me fazia feliz. Chequei, olhando pela janela, se o dia estava excepcionalmente belo. Não estava. Olhei-me no espelho para ver se estava demasiadamente bela, mas tampouco achei –me. Estava tudo muito normal, o cd tocando sem pular nenhuma música, tudo funcionando direito, cada coisa cumprindo seu devido papel. E eu ali, deitada olhando o teto.
Billie Holiday parou de cantar um pouco antes de cansar-me de ouvi-la. Se tivesse parado depois, não faria diferença, pois nada naquele dia me irritaria. Levantei da cama num esforço descomunal e fui checar meus cds, em busca de uma nova trilha sonora para aquela minha estranha tarde. Em cima do aparelho de som estava o cd do chato do Paulinho Moska, que meu pai tanto gostava e queria que eu ouvisse. Isso era suficiente para eu odiar o cantor do nome à voz, sem mesmo nunca tê-lo ouvido.
Revirei todos os cds da prateleira, não agüentava mais ouvir os mesmos músicos de sempre, as mesmas canções que eu sabia de cor e salteado. Não conseguia ouvir muitas vezes a mesma música que logo me cansava dela. Encontrei-me sem escolha, com o cd do tal do Paulinho em uma mão e com o encarte na outra. Sem pensar muito, para não perceber que naquele momento traía à mim mesma (o que facilmente me faria atirar o cd para longe) , comecei a ouvi-lo cantar.
Segui lendo no encarte a letra, para tentar acompanhar a canção “Último dia”, que por uma ironia qualquer era a primeira faixa do disco e começava assim: “Meu amor, O que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, Me diz, o que você faria?”. Pronto. Mal tinha começado a ouvir a voz do cara e ele já vinha com uma pergunta dessas. Sentei na cama, deixei o encarte de lado e voltei para a posição que estava antes de levantar para trocar o cd.
Ao longo da música, palavra por palavra, eu sentia que aquela sensação boa pela qual estava tomada desde cedo, começava a ir embora. Já não me questionava o porquê da felicidade, mas sim o que eu faria se só me restasse um dia. “Andava pelado na chuva? Corria no meio da rua? Entrava de roupa no mar? Trepava sem camisinha?”, eram algumas das perguntas que ele fazia .Estava desnorteada com tantas perguntas.
Completamente tomada pela música, não consegui parar de ouvi-la. Coloquei no repeat e creio que depois da terceira ou quarta vez que ouvi, cochilei. Acordei várias horas depois, exatamente na mesma posição, só que na segunda-feira. O cd dentro do som ainda tocava e o Moska não parava: “Me diz o que você faria, Me diz o que você faria, Me diz o que você faria...”.
Deitada na cama, os lençóis jogados, os travesseiros no chão e repleta de coisas ao redor, rolei de um lado pro outro, dentro do limite que a cama me dava. Fiquei olhando para o teto e depois para tudo o que me cercava, na tentativa de encontrar ali algo especial. Eram muitos papéis, contas à pagar, projetos inacabados, uma xícara de café, um papel de adoçante rasgado, umas tantas roupas que não foram usadas e uma série de outras coisas que agora já não me lembro.
Havia passado a manhã inteira ao som de Billie Holiday, tomando capuccino e comendo bolachas, buscando à minha volta aquilo que me fazia feliz. Chequei, olhando pela janela, se o dia estava excepcionalmente belo. Não estava. Olhei-me no espelho para ver se estava demasiadamente bela, mas tampouco achei –me. Estava tudo muito normal, o cd tocando sem pular nenhuma música, tudo funcionando direito, cada coisa cumprindo seu devido papel. E eu ali, deitada olhando o teto.
Billie Holiday parou de cantar um pouco antes de cansar-me de ouvi-la. Se tivesse parado depois, não faria diferença, pois nada naquele dia me irritaria. Levantei da cama num esforço descomunal e fui checar meus cds, em busca de uma nova trilha sonora para aquela minha estranha tarde. Em cima do aparelho de som estava o cd do chato do Paulinho Moska, que meu pai tanto gostava e queria que eu ouvisse. Isso era suficiente para eu odiar o cantor do nome à voz, sem mesmo nunca tê-lo ouvido.
Revirei todos os cds da prateleira, não agüentava mais ouvir os mesmos músicos de sempre, as mesmas canções que eu sabia de cor e salteado. Não conseguia ouvir muitas vezes a mesma música que logo me cansava dela. Encontrei-me sem escolha, com o cd do tal do Paulinho em uma mão e com o encarte na outra. Sem pensar muito, para não perceber que naquele momento traía à mim mesma (o que facilmente me faria atirar o cd para longe) , comecei a ouvi-lo cantar.
Segui lendo no encarte a letra, para tentar acompanhar a canção “Último dia”, que por uma ironia qualquer era a primeira faixa do disco e começava assim: “Meu amor, O que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, Me diz, o que você faria?”. Pronto. Mal tinha começado a ouvir a voz do cara e ele já vinha com uma pergunta dessas. Sentei na cama, deixei o encarte de lado e voltei para a posição que estava antes de levantar para trocar o cd.
Ao longo da música, palavra por palavra, eu sentia que aquela sensação boa pela qual estava tomada desde cedo, começava a ir embora. Já não me questionava o porquê da felicidade, mas sim o que eu faria se só me restasse um dia. “Andava pelado na chuva? Corria no meio da rua? Entrava de roupa no mar? Trepava sem camisinha?”, eram algumas das perguntas que ele fazia .Estava desnorteada com tantas perguntas.
Completamente tomada pela música, não consegui parar de ouvi-la. Coloquei no repeat e creio que depois da terceira ou quarta vez que ouvi, cochilei. Acordei várias horas depois, exatamente na mesma posição, só que na segunda-feira. O cd dentro do som ainda tocava e o Moska não parava: “Me diz o que você faria, Me diz o que você faria, Me diz o que você faria...”.
Comentários
O comentário original, que eu tentei postar antes de saber das informações todas, era: "Delícia de texto. Absolutamente fantástico"
- Cã.