MAN T RA MEN TI RA
- Tia me ajuda a subir na corda?
- Ajudo sim corintiano.
- Mas Tia e se cair?
- Se o quê cair?
- A corda tia....
- Ah, o arame... não cái não, pode confiar.
- Ái Tia... eu tenho medo...
Pausa. A criança no alto encara a corda à sua frente. É agora ou nunca. Todos os colegas da escola estão ali na fila, esperando ele atravessar. Ele se vê em perigo, hesita em gritar. Respira fundo, prende o fôlego e ouve a torcida embaixo, louca para ver o que vai acontecer com ele assim que colocar o pé no arame.
Ele vê a vida por um fio, mas aquele é o momento de se provar corajoso, de mostrar pra todos os pequenos júris, que ele é o melhor, que ele é capaz.
Na iminência do trajeto a ser percorrido pela criança insegura, as que esperam gritam, dão risada, saem da fila, voltam pra fila, perdem lugar, dão frenteira, brigam, saem aos tapas, chamam a Tia.
- Tia, ele roubou meu lugar!
- É nada Tia, eu tava aqui bem primeiro, antes dela.
- Tava nada! Você tava lá na outra fila e agora veio aqui pra minha frente!
- Mentira Tia, mentira!
Manifestação geral.
Até as crianças que esperavam em outra fila se aproximam, dão suas opiniões, seus julgamentos de quem está certo e quem está errado- cada um com uma versão diferente.
As duas vítimas olham para a Tia com um olhar de piedade.
Ambos se dizem inocentes, acusam um ao outro como culpado.
As testemunhas contestam, juram que viram tudo acontecer e todos garantem quem estava certo,porém não em unanimidade.
A tia dá o veredicto final:Os dois para o final da fila.
- Posso ir agora Tia?
- Pode, pode... - a tia responde cansada e estressada depois de tamanha confusão.
A criança apoia a mão na mão daquela que acredita ter há pouco estabelecido ordem no meio do caos e percorre todo o arame, com total equilíbrio -(da tia).
Chegando do outro lado,o pequeno no alto vira-se de frente e encara o arame novamente.
-Não pequeno, a volta é de costas.
- De costas??? Como assim de costas???- a criança pergunta com olhar apavorado.
- É a mesma coisa que você acabou de fazer, só que de costas.
- Andar no arame de costas???
- É, pode confiar, a tia tá aqui pra te dar a mão.
- Não tia, não posso não.- a criança responde num tom de quem acaba de ser altamente ofendido.
- Como não pode? tem medo, é?
- Não Tia.
A fila começa a se manifestar, apressando a vez do garoto. "-Vai logo, deixa de ser medroso!". Gritam todos em uníssono: " Me-dro-so! Me-dro-so! Me-dro-so! Me-dro-so!"
- O que é então?
- Ah tia, é que quem anda de costas a mãe morre.
O menino se recusa voltar de costas, desce da banquilha e corre para os braços da mãe, que tudo observava.
- Você viu mãe? A tia queria que eu voltasse no arame de costas.
A mãe dá um sorriso, abraça o filho e diz:- " Que besteira filho, na corda não tem problema andar pra trás, o perigo é no chão."
O filho olha pra mãe, pra corda e pros colegas. Uma lágrima cái do olho direito e escorre pelo rosto. Enquanto isso a próxima da fila sobe na banquilha, os colegas gritam, torcem, a tia dá a mão. A menina coloca o pé no arame e uma pequena de cabelos cacheados loiros imediatamente chama a atenção da tia:
- Tia, tia! Ela roubou meu lugar!!!
- Mentira tia!!!!
- mentira !
- mentira !
- mentira !
- mentira....
Repetem isso durante a aula inteira, a tarde inteira, o dia inteiro, como um mantra budista. Um mantra de vibrações fortes que possui uma energia sonora, capaz de movimentar outras energias que envolvem quem o entoa, mesmo não sabendo o significado da palavra dita.
- Mentira.
MEN TI RA MEN TI RA MEN TI RA MEN TI RA MEN TI RA MEN TI
- Ajudo sim corintiano.
- Mas Tia e se cair?
- Se o quê cair?
- A corda tia....
- Ah, o arame... não cái não, pode confiar.
- Ái Tia... eu tenho medo...
Pausa. A criança no alto encara a corda à sua frente. É agora ou nunca. Todos os colegas da escola estão ali na fila, esperando ele atravessar. Ele se vê em perigo, hesita em gritar. Respira fundo, prende o fôlego e ouve a torcida embaixo, louca para ver o que vai acontecer com ele assim que colocar o pé no arame.
Ele vê a vida por um fio, mas aquele é o momento de se provar corajoso, de mostrar pra todos os pequenos júris, que ele é o melhor, que ele é capaz.
Na iminência do trajeto a ser percorrido pela criança insegura, as que esperam gritam, dão risada, saem da fila, voltam pra fila, perdem lugar, dão frenteira, brigam, saem aos tapas, chamam a Tia.
- Tia, ele roubou meu lugar!
- É nada Tia, eu tava aqui bem primeiro, antes dela.
- Tava nada! Você tava lá na outra fila e agora veio aqui pra minha frente!
- Mentira Tia, mentira!
Manifestação geral.
Até as crianças que esperavam em outra fila se aproximam, dão suas opiniões, seus julgamentos de quem está certo e quem está errado- cada um com uma versão diferente.
As duas vítimas olham para a Tia com um olhar de piedade.
Ambos se dizem inocentes, acusam um ao outro como culpado.
As testemunhas contestam, juram que viram tudo acontecer e todos garantem quem estava certo,porém não em unanimidade.
A tia dá o veredicto final:Os dois para o final da fila.
- Posso ir agora Tia?
- Pode, pode... - a tia responde cansada e estressada depois de tamanha confusão.
A criança apoia a mão na mão daquela que acredita ter há pouco estabelecido ordem no meio do caos e percorre todo o arame, com total equilíbrio -(da tia).
Chegando do outro lado,o pequeno no alto vira-se de frente e encara o arame novamente.
-Não pequeno, a volta é de costas.
- De costas??? Como assim de costas???- a criança pergunta com olhar apavorado.
- É a mesma coisa que você acabou de fazer, só que de costas.
- Andar no arame de costas???
- É, pode confiar, a tia tá aqui pra te dar a mão.
- Não tia, não posso não.- a criança responde num tom de quem acaba de ser altamente ofendido.
- Como não pode? tem medo, é?
- Não Tia.
A fila começa a se manifestar, apressando a vez do garoto. "-Vai logo, deixa de ser medroso!". Gritam todos em uníssono: " Me-dro-so! Me-dro-so! Me-dro-so! Me-dro-so!"
- O que é então?
- Ah tia, é que quem anda de costas a mãe morre.
O menino se recusa voltar de costas, desce da banquilha e corre para os braços da mãe, que tudo observava.
- Você viu mãe? A tia queria que eu voltasse no arame de costas.
A mãe dá um sorriso, abraça o filho e diz:- " Que besteira filho, na corda não tem problema andar pra trás, o perigo é no chão."
O filho olha pra mãe, pra corda e pros colegas. Uma lágrima cái do olho direito e escorre pelo rosto. Enquanto isso a próxima da fila sobe na banquilha, os colegas gritam, torcem, a tia dá a mão. A menina coloca o pé no arame e uma pequena de cabelos cacheados loiros imediatamente chama a atenção da tia:
- Tia, tia! Ela roubou meu lugar!!!
- Mentira tia!!!!
- mentira !
- mentira !
- mentira !
- mentira....
Repetem isso durante a aula inteira, a tarde inteira, o dia inteiro, como um mantra budista. Um mantra de vibrações fortes que possui uma energia sonora, capaz de movimentar outras energias que envolvem quem o entoa, mesmo não sabendo o significado da palavra dita.
- Mentira.
MEN TI RA MEN TI RA MEN TI RA MEN TI RA MEN TI RA MEN TI
Comentários
aliás, de não esperar o meu tchau.
se cuida vc também.
beijo