Um amor em ficção.
É horrível lembrar dele o tempo todo e não conseguir lidar com a verdade nua e crua.
Essa é a pior parte, a verdade deitada na cama de braços e pernas abertas, esperando sabe Deus quem chegar.
Ousada e petulante, a verdade exibe o corpo todo nu, rolando de um lado para outro no colchão. Sozinha no quarto, ouvindo Billie Holiday e pensando no próximo vinho que vai tomar. São tantos vinhos que ela não consegue decidir com qual vai se embriagar. Talvez um tinto para lembrar os tempos que passava noites fora de casa, naquele apartamento na Rua Marquês de São Vicente, entregue ao seu agrado.
Tinha sede de prazer e fome de carne e ái daqueles que não a saciassem.
Falta vergonha na cara da mentira. Ela sim é uma atriz de se tirar o chapéu, encara e encarna em qualquer papel. Deitada na cama não faz nenhum papel, somente é. E é assim mesmo, insinuante, sedutora e convincente. Nunca fora rejeitada, o que tornava- a ainda mais segura; segura como nenhuma outra. Faz jeito de menina e pose de mulher bem resolvida, sabe exatamente o que quer.
Depois que fui apresentado à ela, não parei de pensar em tudo que queria fazer com ela, de tudo que ela poderia fazer comigo, e foi aí que tracei meu destino, aí que cavei minha cova e paguei meu enterro (à prazo, em eternas prestações mensais de privações carnais).
Depois dela nenhuma outra mulher passou em minha vida.
A mentira foi quase como um sonho, ou como uma terrível maldição, para os não-românticos como eu. A última vez que li um livro foi deitado ao lado dela, no quarto daquele hotel. Me fingi poeta e li trechos de Neruda, deitado no colo dela. Ela enrolando meu cabelo e eu segurando o livro com as duas mãos.
Vire e mexe ela esticava o braço para eu servir-la de mais vinho, talvez porque gostasse de me interromper, ou talvez porque quisesse às minhas custas, se embriagar. Depois de uns goles, repetia as palavras de Neruda e me fazia ouvir justamente aquilo que, em vão, eu acabava de recitar.
Ao meu lado, deitada na cama, preocupava-se mais em olhar-se no espelho e os cabelos pentear à ouvir-me cantar. Devia pensar em todos aqueles com quem poderia estar naquela mesma noite. Confesso que minha voz não é assim como a de um tenor, porém esforçava-me na tentativa de cantar belas canções de seu agrado.
Quantas horas jogadas fora, lendo e decorando letras de canções, só para ouvi-la me acompanhar, dizendo na primeira estrofe o quanto tínhamos em comum, o quanto amava tal música e como eu adivinhava sempre suas músicas prediletas.
Ah Mentira, quantas coisas fiz por ti ...
Perco as contas de quantas coisas abri mão, só para tê-la ao meu lado, numa cama de hotel.
Ah Mentira...
Por que fizestes isso se sabias que amava- te com uma força bruta, como nenhum outro homem?
Ah, Mentira...
Por que deixaste-me naquele quarto, envolto em trapos, respirando aquele ar ébrio, embriagado de tanto vinho?
Ah, Mentira...
Diga-me que tudo não passou de um sonho, faça-me acordar novamente e despertar ao seu lado, como naquela noite fria em que não tinhas para onde ir.
Ah Mentira...
Dê-me mais uma chance, diga-me que tudo não passou de uma doce mentira.
Ah Mentira, me perdoe, eu não queria amá-la tanto.
Essa é a pior parte, a verdade deitada na cama de braços e pernas abertas, esperando sabe Deus quem chegar.
Ousada e petulante, a verdade exibe o corpo todo nu, rolando de um lado para outro no colchão. Sozinha no quarto, ouvindo Billie Holiday e pensando no próximo vinho que vai tomar. São tantos vinhos que ela não consegue decidir com qual vai se embriagar. Talvez um tinto para lembrar os tempos que passava noites fora de casa, naquele apartamento na Rua Marquês de São Vicente, entregue ao seu agrado.
Tinha sede de prazer e fome de carne e ái daqueles que não a saciassem.
Falta vergonha na cara da mentira. Ela sim é uma atriz de se tirar o chapéu, encara e encarna em qualquer papel. Deitada na cama não faz nenhum papel, somente é. E é assim mesmo, insinuante, sedutora e convincente. Nunca fora rejeitada, o que tornava- a ainda mais segura; segura como nenhuma outra. Faz jeito de menina e pose de mulher bem resolvida, sabe exatamente o que quer.
Depois que fui apresentado à ela, não parei de pensar em tudo que queria fazer com ela, de tudo que ela poderia fazer comigo, e foi aí que tracei meu destino, aí que cavei minha cova e paguei meu enterro (à prazo, em eternas prestações mensais de privações carnais).
Depois dela nenhuma outra mulher passou em minha vida.
A mentira foi quase como um sonho, ou como uma terrível maldição, para os não-românticos como eu. A última vez que li um livro foi deitado ao lado dela, no quarto daquele hotel. Me fingi poeta e li trechos de Neruda, deitado no colo dela. Ela enrolando meu cabelo e eu segurando o livro com as duas mãos.
Vire e mexe ela esticava o braço para eu servir-la de mais vinho, talvez porque gostasse de me interromper, ou talvez porque quisesse às minhas custas, se embriagar. Depois de uns goles, repetia as palavras de Neruda e me fazia ouvir justamente aquilo que, em vão, eu acabava de recitar.
Ao meu lado, deitada na cama, preocupava-se mais em olhar-se no espelho e os cabelos pentear à ouvir-me cantar. Devia pensar em todos aqueles com quem poderia estar naquela mesma noite. Confesso que minha voz não é assim como a de um tenor, porém esforçava-me na tentativa de cantar belas canções de seu agrado.
Quantas horas jogadas fora, lendo e decorando letras de canções, só para ouvi-la me acompanhar, dizendo na primeira estrofe o quanto tínhamos em comum, o quanto amava tal música e como eu adivinhava sempre suas músicas prediletas.
Ah Mentira, quantas coisas fiz por ti ...
Perco as contas de quantas coisas abri mão, só para tê-la ao meu lado, numa cama de hotel.
Ah Mentira...
Por que fizestes isso se sabias que amava- te com uma força bruta, como nenhum outro homem?
Ah, Mentira...
Por que deixaste-me naquele quarto, envolto em trapos, respirando aquele ar ébrio, embriagado de tanto vinho?
Ah, Mentira...
Diga-me que tudo não passou de um sonho, faça-me acordar novamente e despertar ao seu lado, como naquela noite fria em que não tinhas para onde ir.
Ah Mentira...
Dê-me mais uma chance, diga-me que tudo não passou de uma doce mentira.
Ah Mentira, me perdoe, eu não queria amá-la tanto.
Comentários
speechless that how i am now.