Se for, finja que não é.

Amo-o por não conhecê-lo e por não conhecê-lo, tento cada dia conhecer-lhe menos fingindo que conheço mais. E é justamente por esse meu desconhecimento que amo tanto esse seu jeito-sujeito desconhecido.
Amo-o profundamente por corresponder a todas as minhas expectativas . Amo-o por conhecer somente aquilo que gosto em você e disso faço seu eu.
Você é como quero que seja e só não te conheço mais por saber que o fazendo, deixarei de te amar e você deixará de ser você.
Você é para mim alguém que você não é para você e muito menos para ela.
Por favor, não deixe de ser você.
Continue fazendo-se presente pela sua ausência no meu dia-a-dia, caso contrário cansarei de você e a pessoa que eu conheço, sumirá da minha vida e deixará de existir .
Essa personagem que criei sobre você é fiel amiga e confidente, dela preciso para viver. (Sim, viver)
Isso que acabo de dizer não é um peso que te cai sobre as costas, mas sim uma leveza que te toma o corpo, pois para você existir basta você ser aquilo que eu quero que seja, nada mais, nada menos.
Surpreenda-me sendo mais, antecipe minhas expectativas com menos e faça-me mais feliz.
Contigo serei por contigo nunca estar. E por ti nunca sofrer.
E por à ti nunca ter, mas por poder ter certeza de ter-me inteira (é necessário reler essa frase algumas vezes para que ela não soe como algo catastrófico e faça sentido). Ter-me inteira assim como sou- ou seja, como pensas que sou. E se eu descobrir que sobre mim existe uma personagem criada por ti, sentirei feliz. Por ser uma idealização sua sou a mulher mais feliz, pois tornou-me ideal.
Idealize-me, pois, eternamente, assim como quando te idealizo e te faço maior, mais homem, mais meu.
Eu criei você, eu te fiz e você então se fez. Sou criadora e você é criatura livre- para continuar sendo você em mim ou para sumir do mundo descrendo-me de ti, o que pode acabar contigo e comigo mutuamente, sendo esta tragédia meu maior temor.
Gosto de poder sentir algo maior por você, que não consigo com palavras nomear. Gosto de perceber que não é amor (contrário ao que disse na primeira frase desse texto), gosto de perceber que tampouco se trata de ódio ou paixão.
Trata-se de plenitude e preenchimento - do ser.
Do não-ser, já que é aquilo que criei.
Então é?
É para mim somente.
Para os outros é outro que não você.
É outro. Sem graça, sem amor, sem qualquer coisa que me faça atrair por você. (será?)
E se você for?
For isso que eu criei
Não pode ser. Não é possível. Algo tomou conta de mim nesse instante. Não quero de jeito algum um dia te conhecer, pois corro um perigo duplo: amar-te ou matar-te.
Imploro, suplico, grito e choro: não se revele para mim, não seja de fato o que eu penso que vens a ser pois se fores não sei o que será.
De mim.
Não, você não é. E nem será. Não ouse, pois de ousadia estou farta.
Se sua busca na vida é saber quem você é, já tenho a resposta. Mantenha-se então sentado e tranqüilo, tomando uma xícara de café. Continue vivendo e será, desta maneira, aquele que criei.
Sou déspota criadora, não seja déspota criatura.
Continue vivendo, mas nunca seja.
E se for, finja que não é.

Comentários

Anônimo disse…
Li, tu falou que ia me explicar a fundamentacao do texto, mas eu entendi direitinho (eu acho)...
mas deixa eu mostrar uma parte que eu nao gostei, mas nao pela jeito como foi escrito e sim o que foi escrito (e que eu nao acredito que seja verdade, e se for, nao gostei e pronto): Você é como quero que seja e só não te conheço mais por saber que o fazendo, deixarei de te amar.

eu nao vou nem falar do texto, pq vc bem sabe suas qualidades... mas esse foi um dos melhores
sempre superando o anterior... vc eh foda
te amo
Anônimo disse…
contradizendo todas as verdades que todos assumem por ti, continuas Alice.
Alice intraduzível.
Entendi perfeitamente querida!
Um beijo e amo-te
Anônimo disse…
deixa o amanhã dizer

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